quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Superando obstáculos: JANE LEMOS POR ELA MESMA

A minha trajetória de vida foi extremamente difícil. Meus pais eram alcoólatras e por isso não puderam me dar uma vida estável. Devido à essa infância devastada decidi abandonar os estudos no 7°ano do Ensino fundamental e naquele momento não tinha estrutura psicológica para  dar continuidade nos estudos.
Logo após tive um relacionamento e dele tive meus dois filhos, Caio e Camila. O Caio tive aos dezessete anos e a Camila aos dezenove. Passei por situações delicadas, pois meu ex-companheiro é usuário de drogas e, além disso, ele me agredia fisicamente e verbalmente e isso durou durante dezesseis anos.
Comecei a trabalhar muito cedo como empregada doméstica, auxiliar de limpeza e apesar das dificuldades sempre procurei ser o mais honesta possível. Em 2004 resolvi voltar para a escola pois meu objetivo era dar uma vida melhor aos meus filhos e também obter melhor conhecimento, porém meu ex companheiro era totalmente contra minha decisão e por isso essa caminhada ficou mais difícil ainda, pois ele me agredia muito tentando fazer eu desisti, mas eu estava determinada e fui até o fim. Fiz então o EJA e conclui o ensino médio.
Na época da conclusão queria uma formação acadêmica, no entanto me faltou oportunidade e após alguns anos fui em busca do meu sonho, o de ser professora. Hoje estou no 5° semestre de letras e possuo outra visão de mundo, mais ampla e bem consciente de tudo que passei na minha história de vida. Hoje sei que tudo que quisermos alcançar, é possível!
Minha perspectiva é contribuir para uma mudança positiva na educação e alcançar futuras gerações positivamente.
De acordo com Paulo Freire a educação é um ato de amor!

Jane Lemos –  5º Semestre do Curso de Letras – segundo semestre 2016

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

HISTÓRIA DE VIDA: ISABEL SANTANA POR ELA MESMA

Ato I

A adolescência
Fase das interrogações, das indagações, da busca incessante por uma identidade. Época em que, pelas necessidades, trocávamos a escola pelo trabalho. Dessa forma, os estudos noturnos com aulas desinteressantes, foram a causa da minha desistência e o último ano do ensino médio foi substituído pelo namoro.
Estudar deixara de fazer parte dos meus planos, afinal, outras prioridades surgiram. A maior delas passou a ser o casamento a partir do momento em que, o sentimento da paixão, o fascínio e a atração nos uniu.
Nós nos casamos e, diferente de muitas mulheres, eu nada tinha a reclamar, aliás, não tenho até hoje. Nossa prioridade sempre foi à atenção, o respeito, o cuidado e a liberdade com responsabilidade. Para nós essa é a base da construção do amor.
No nosso primeiro ano de casados, tudo corria perfeitamente bem, até que ele adoeceu. Sofreu uma hemorragia digestiva, foi internado com urgência no Hospital das Clínicas e também foi desenganado pelos médicos.
Eu passei dias e  noites no hospital com um vazio dentro de mim sem poder estar ao lado dele. Várias vezes, sentada ao chão, chorava com medo de perder o grande amor da minha vida. As lembranças de tudo que vivemos até ali, permaneciam vivas em mim e a cada relatório médico, ouvia que a situação dele era crítica e que eu aceitasse aquela realidade. Desesperada, voltei ao chão e, com lágrimas, suplicava à Deus que não o levasse, que não o tirasse de mim.
Fiquei desorientada e passei dias sem sono e sem fome, apenas com a esperança de que ele reagisse. Acompanhava todos os procedimentos médicos e num dado momento, os exames foram dados como satisfatórios. A partir daí não corria mais risco de vida e eu pude ficar ao seu lado, acariciar o seu rosto e declarar o quanto eu o amava, mesmo sem ouvir dele nenhuma palavra. No processo da sua recuperação, foi transferido para um hospital do nosso convênio e, em alguns dias, estava de volta à nossa casa.
No decorrer da vida, nos empenhamos e crescemos juntos e nos momentos das nossas maiores perdas, minha mãe, meu pai e meu sogro, a base que construímos nos ajudou a enfrentar a aflição e o sofrimento.
Tempos mais tarde, numa confraternização de final de ano, conheci uma senhora e fiquei indignada com sua história de vida. Sofria violência doméstica e psicológica por parte do marido e, por não conhecer os seus direitos, acreditava que aquela seria a personalidade dele.
Resolvi, então, deixar a minha zona de conforto, voltar aos estudos e buscar uma formação para oferecer ajuda. Fiz minha matrícula na EJA, afinal, nunca é tarde para se aprender e foi assim que passei a enfrentar novos desafios.
Presenciei desrespeito aos professores, usuários e tráfico de drogas, alunos e professores desmotivados, entretanto, nada interferiu no meu objetivo. Por outro lado, encontrei professores determinados a ensinar, a apresentar-nos novos caminhos, e então, o meu sentimento sempre foi gratidão, afinal, mesmo diante de tantas dificuldades, eles não desistiram do árduo trabalho e por esse motivo, pude experimentar durante esse tempo, o acolhimento de cada um e no término do período, planejar o meu ingresso à faculdade.


Ato II

O início de tudo
Entre tantas dificuldades, surge o sonho, e assim, começa um novo espetáculo. A faculdade transformou-me por completo. Conceitos, preconceitos, questionamentos. O encontro do eu com outras possibilidades. Muitas foram as diferenças, os rancores, os desafetos, porém, cada situação vivida, um aprendizado.
O curso de Letras. No meu interior, o que representa o Estudo das Letras?
Retrata e traduz a minha história, meus silêncios, sentimentos intensos, saudades. Lembranças que permaneceram guardadas desde o primeiro despertar, desde o primeiro desejo de no caminho das letras navegar.
Fui desencorajada, visto que, escolhi o que não estava ao meu alcance e ouvi que esse caminho somente os filhos dos ricos atravessariam. Então, eu desisti!
Porém...
Minha vida estava escrita nas estrelas e aprendi que pelo meu amor, seja pelo que for, posso ouvi-las e entendê-las. Permiti que a  minha vida seguisse novos rumos, que novos horizontes fossem vistos, que os desafios e os limites fossem ultrapassados, que os medos fossem vencidos e que, o amor, despontasse do profundo da minha alma como uma melodia que relembra um tempo que não volta mais.
É a ordem da vida, no entanto, o sonho não morreu, apenas adormeceu e eu, o segurei novamente nas mãos e aprendi que há liberdade na poesia, há encanto nos sonhos, há um convite diante do universo, há um devorar de consciências, há uma verdade absoluta transformada em indignação, há um recomeço, há uma nova inspiração e um ardor produzido nessa trajetória do aprender e do ensinar. Vivi o encontro das lágrimas com o riso, do medo com a coragem, do sonho com a realidade, do empenho com o resultado. O ensino que nasce todos os dias, que produz conhecimento, que transforma uma história, que traduz emoções e sentimentos, que frutifica palavras, que provoca paixão e que gera amor.
Como eu descobri tudo isso?
Durante o curso, tudo seguia normalmente, até que, nos foi apresentado pelo professor Neto o livro “Aula de Português, encontro & interação” – Irandé Antunes. Um ensino que trata da realidade, do convívio do aluno e que ultrapassa os muros da escola. Relembrei então, a minha história de criança, a época em que, por não aprender a escrita, apanhava da professora.
Assustador não é mesmo?
Porém, o pior de tudo foi confrontar a minha realidade.
Eu não tinha conhecimento de que, minha vida havia se perdido após um estado de luto. Há algum tempo, eu sepultara o grande amor da minha vida, o meu pai. Naquele dia, as pessoas saíam lentamente, em silêncio, enquanto eu pensava que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto. Um absurdo, mas que no luto é o comum daquele que ama. Todos se foram e chegou o silêncio, o frio e a dor.
Demorei a aceitar, afinal, essa dor também é física. Ela rasga de dentro pra fora e deixa o corpo e a alma abatidos de cansaço. Após muitos dias sem dormir, dormi sem querer. Simplesmente o corpo desliga porque sabe que não suporta. A dona morte me roubou a ponto de me deixar vazia. De tudo que restou em mim, o que mais se sobressaiu foi a dor. Muitos foram solidários ao meu sofrimento , era preciso força para continuar e audácia para dar valor à própria vida quando a pessoa com quem você sonhou em dividir tantas coisas não está mais ali.
A vida não para em prol do nosso sofrimento e o mundo não deixa de girar para sofrermos. Tudo permanece como está e segue o fluxo normal. O tempo é curto e o verdadeiro amor é raro. Deus existe. Amar exige compaixão e se para ter a história que eu tive com meu pai exigia carregar essa dor, eu a carregaria mil vezes sem a menor dúvida, afinal, com o luto eu aprendi a jamais me arrepender de amar. É o amor. É o amor de pai e filho.
Nesse meio tempo, algo surpreendente aconteceu comigo. Eu não tinha conhecimento de que havia sido sepultada com o meu pai e estava morta. A minha história é de transformação. Eu voltei à vida e tudo passou a fazer sentido novamente, afinal, a educação tem esse poder, o professor tem esse poder nas suas estratégias e na sua maneira de ensinar.
Por isso, para ser um professor de verdade, não há necessidade de expor o seu currículo e nem mesmo de agregar um personagem, visto que, nada disso tem valor. O verdadeiro professor precisa gostar de conversar, uma vez que, sem diálogo, o conhecimento não acontece. É essencial saber que a ironia e o sarcasmo não são um bom caminho a seguir, pois na educação, eles nada constroem. O verdadeiro professor é aquele que observa e alcança através do seu potencial, da sua capacidade, das suas estratégias e da sua transparência. O verdadeiro professor é gente como a gente.
A minha gratidão ao professor Neto que me ajudou a sair dessa condição de dor e sofrimento que nada é capaz de atenuar. Você professor é o responsável por essa transformação na minha vida.


Ato III

A grande surpresa. O reconhecimento e o carinho da professora
“Isabel
Aluna incrível!
Sua dedicação, esforço e sede de conhecimento chamaram a minha atenção.
Com a sua meiguice, humildade e inteligência, ela me conquistou, deixando de ser uma simples aluna, mas também uma grande amiga, por ser uma pessoa tão dócil e compreensiva. 
Sinto-me honrada por ter participado dessa fase tão importante da sua vida! Tê-la como aluna, foi para mim, um presente de Deus, pois ela nos faz enxergar que nem tudo está perdido, mas que ainda vale a pena persistirmos nessa nossa missão que, embora árdua, pessoas como a Isabel, tornam a nossa caminhada mais leve e prazerosa”.

Marilene,
Professora de Língua Portuguesa.


A Faculdade!
O entrar para uma instituição de ensino superior é viver uma experiência de vida e, diferentemente da escola, ninguém nos obriga a assistir às aulas ou mesmo a comparecer nas atividades. É minha a responsabilidade em buscar autonomia e adquirir conhecimento. Nesse acesso, há o amadurecimento, o engajamento e o encarar sem filtros, nossos próprios defeitos ou dificuldades. Embora nunca devamos deixar de ser quem somos na nossa essência e integridade, alguns pontos de vista irão mudar a nossa maneira de pensar e ver o mundo. É um caminho lento, uma constante adaptação, um deslumbre.
Cada período exige uma maior entrega, e hoje, no quinto semestre, já concluí todo o meu período de estágio e fui convidada pela coordenadora da escola a participar de um projeto de reforço com crianças que possuem dificuldades de leitura e escrita. Procuro atendê-los em suas necessidades a partir de cada realidade, e assim, gerar situações de aprendizagem reais e significativas.
Os desafios são muitos e o espaço educativo necessita estar vinculado ao mundo real porque é essencial formarmos homens investigadores, autônomos, conscientes e participativos na sociedade e não acumuladores de conhecimentos.
Esta é a minha história de vida, uma história de transformação e de conquistas.

Isabel Santana

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: Relações de Gênero

Alunas do 4º Semestre de Pedagogia
Ana Paula Mascarenhas
Andreia Nunes Oliveira
Andreia Oliveira Santos Ferreira


INTRODUÇÃO

          De acordo com a Constituição Federal art. 5º “Todos são iguais sem distinção de qualquer natureza”, e desde quando nascemos, somos ensinados o que podemos e o quenão podemos fazer de acordo com nosso gênero. O doutrinamento de gênero começa com as cores dos enxovais dos bebês, os brinquedos que ganhamos de presente e o tipo de roupa que nossos pais nos dão para vestir. Meninas usam vestidinhos de princesas, meninos usam camisetas de super-heróis. Enquanto os garotos brincam com carros, as meninas recebem jogos de panelas, pias, utensílios domésticosde brinquedo e aprendem a brincar de boneca com cabelos loiros, com corpos irrealmente magros, e escutam que precisam ser bonitas e agir como mocinhas.  Rousseau em sua obra Emilio ou da Educação em 1762, fala “O homem nasce bom a sociedade o corrompe. Nossa cultura tem uma forte ideologia de gênero sendo disseminada pela sociedade, nas escolas, nos ambientes de lazer e nas famílias, sejam ela tradicionais ou não. E a pior parte disso é que essas ideias sobre o que é feminino ou masculino estão contaminadas por hierarquizações; ou seja, as crianças acabam aprendendo que meninos podem fazer mais coisas e que as meninas devem agir de maneira submissa e contida. Na prática, o machismo é perpetuado: os homens aprendem a ser predadores e as mulheres enfrentam altos índices de violência machista – aquela que acontece contra as mulheres por motivações misóginas, como a ideia de que devem obedecer seus parceiros ou que não podem rejeitar um avanço sexual.  Preconceito, discriminação relações de poder, relação de gênero não ficam fora dos espaços educacionais e nas práticas pedagógicas. Num momento em que muitos retrocessos acontecem sobre a sociedade brasileira, o campo da educação não está imune a dar passos para trás em conquistas ocorridas nos últimos anos. Esta temática não pode ficar de fora da discussão, seja no currículo, do projeto político-pedagógico ou avaliação crítica quanto as interações que ocorrem dentro dos muros da escola. Rousseau ainda em sua obra Emilio diz “É papel da educação formar a vontade geral no individuo transformando-o em cidadão” Daí a importância dos espaços educacionais,  rever e construir novas práticas pedagógicas pautadas na igualdade de gênero, oferecendo as mesmas oportunidades a todos sem distinção.
OBJETIVOS
Compreender as relações de gênero, como interfere nos espaços educacionais. Analisar o modo como tais práticas orientam e reforçam diferentes habilidades femininas ou masculinas, gerando a desigualdade. Aprender novas práticas pedagógicas, problematizando e buscando soluções, para formar cidadãos críticos que respeitam e valoriza a diversidade.
DESENVOLVIMENTO
“E preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, até que em um dado momento, a tua fala seja a tua prática.” (Paulo Freire).
Vivemos em uma sociedade “mascarada” onde as pessoas muitas vezes vestem máscaras ou mostram o que não são. Muitas pessoas já não importam mais umas com as outras e o ser humano fica em segundo lugar. O desrespeito, a intolerância, o preconceito, a discriminação, o racismo vem sendo “mascarados” pela sociedade, que diz importar com o próximo. Maso que vimos é o aumento da intolerância, violências, desigualdade social em todas as esferas. Como mudar essa situação? Como mudar essa sociedade?
Paulo Freire dizia que a educação não muda o mundo, a educação muda pessoas. A escola é o veículo que pode propiciar essas mudanças, desta forma,  precisamos falar sobre isso, fomentar, instigar os estudantes a falar e deixar expressar suas ideias, realizando reflexões e assim desconstruir alguns paradigmas, assim propomos o “Jogo das máscaras”.

O jogo de máscaras, atividade para EJA.

PLANEJAMENTO:

Levar para sala máscaras prontas, confeccionadas com cartolinas e coloridas com canetinhas. (segue em anexo modelos das máscaras).
Organizar em circulo, pede para dividir em12 grupos e cada um dos  grupos  vai pegar uma máscara, alheatória.
Depois ler a frase do Rousseau, “O homem nasce bom a sociedade o corrompe”
Na roda de conversa, questione: Quais as máscaras, o que tipo de máscara as pessoas usam no seu dia-a-dia?
Vocês acham que existem pessoas mentirosas ou que não podem ser elas mesmas? Por quê?
Mulheres que sofrem agressão porque não denunciam o seu agressor?
Por que pessoas não revelam sua opção sexual?
Reflexões sobre a utilização das diversas máscaras.
Após fazer as reflexões perguntar aos estudantes: como foi usar essas máscaras? Qual foi o sentimento? Foi fácil usar? Como sente um indivíduo que sofre tal situação?
Muitas vezes somos obrigados a viver uma vida de máscaras, com medo das represálias, repúdio da sociedade, falta de apoio da família.  Pessoas não revelam seus sentimentos, sua opção sexual, sua verdadeira identidade. Sofrem caladas as violências sofridas, trazem na alma as marcas de racismo, preconceitos e violência.  Por que isso? Só quando todas as pessoas entenderem o seu papel na sociedade, quando todos lutarem para que seus direitos de fato sejam exercidos, quando for realmente uma sociedade liberta, estaremos livres de todas as formas de preconceito e discriminação. Quando a humanidade verdadeiramente se importar com o próximo, respeitando e valorizando as diferenças, independente da sua classe social, gênero, religião, raça, etnia, ou opção sexual, seremos uma sociedade mais humanizada e feliz. 
FECHAMENTO
Sabemos que gênero é uma construção social, independente do fator biológico. Desde crianças somos ensinados o que é feminino ou masculino, gerando muitas vezes relação de poder, disputa, discriminação, preconceito e racismo. É importante a escola na formação de cidadãos, que respeitem e valorizem a diversidade.  E o papel do professor no combate a qualquer forma de discriminação.
BIBLIOGRAFIA
https:pensador.uol.com.br>paulo_freire
https:acervo.novaescola.org.br/.../relacoes-de-genero-um-tema-que-nao-pode
CABRAL, João Francisco Pereira “a educação no “Emilio” de Rousseau”: Brasil Escola. Disponível em https: //brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-educação-no-emilio-rousseau.htm. Acesso em 27 de novembro de 2016.

https://www.youtube.com/watch?v=UN6kWKTl_eI

Igualdade de gênero é antes de tudo um direito humano.

https://www.youtube.com/watch?v=oueAfq_XJrg

A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DE PAULO FREIRE

Felipe Santos
Graciele Santos Palvesk
Isabel M T Oliveira Santana
Priscila Fonseca Merise

O tema de reflexão neste texto será uma ligação entre teoria e prática na educação proposta por Paulo Freire.
A proposta educativa de FREIRE, de (1996) vai ao encontro de organização de um ajuste entre teoria e prática, apresentada como práxis pedagógicas (conduta ou ação que corresponde a uma atividade prática em oposição à teoria).Pensar a educação, na performance da prática na atualidade, continua sendo um dos grandes desafios enfrentados pelos educadores/as em sala de aula.
Precisamos arriscar-nos nos espaços de formação, melhorando a capacidade de transformação social, desenvolvimento intelectual, constituição social, desenvolvimento intelectual, constituição de relações e construção de conhecimento, bem como a cidadania dos diversos atores sociais.

“Esse saber didático, enquanto saber de mediação, trata de princípios, essencialmente metodológicos, do processo pedagógico escolar – ensino - entendidos à luz do estreito relacionamento entre conteúdo e forma, no contexto das condições concretas do trabalho didático, o qual possui sua expressão nuclear na sala de aula”. (OLIVEIRA, 1993: 133)

É um engano pensarmos numa sociedade globalizada/globalizante, alicerçada em princípios solipsistas (concepção de que além de nós, só existem as nossas experiências) e individuais, considerando que o coletivo provoca discussões, análises, sínteses sobre uma determinada realidade que, por sua vez alimenta o espírito transformador comunitário.
Este processo planeja, conduz a reorienta conceitos de mudanças pessoais e de grupos, de forma integrada, trazendo a possibilidade de entendimento e transformação.

“... do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo reinventá-lo ; aquele que é capaz de aplicar o aprendido – apreendido a situações existenciais concretas. Pelo contrário, aquele que é enchido por outros, de conteúdos cuja inteligência não percebe, de conteúdos que contradizem a própria forma de estar em seu mundo, sem que seja desafiado, não aprende.” (FREIRE, 1975: 27 e 28).


A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA: A PRÁXIS PEDAGÓGICA

Nossa abordagem sobre a relação teoria e prática percorre o compromisso existente dos sujeitos na construção de saberes e com a transformação da sociedade. Dentro do processo pedagógico, teoria e prática precisam dialogar permanentemente, fugindo da ideia tradicional de que o saber está somente na teoria, construído distante ou separado da ação/prática.

Na concepção de Freire, teoria e prática são inseparáveis tornando-se, por meio de sua relação, práxis autêntica, que possibilita aos sujeitos reflexão sobre a ação, proporcionando educação para a liberdade. “A práxis, porém, é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimido” (FREIRE, 1987, p. 38).

A palavra verdadeira é práxis, energia e realização da vocação para um ser mais humano (vocação ontológica), seu objetivo é a transformação do mundo.
Este é um processo que envolve uma reação entre que o que se pensa, o que diz e o que se faz, sendo este um ato coerente de aproximação do que pensamos, dizemos e fazemos.
A formação crítica deve viver plenamente a práxis, a partir de uma reflexão que ajuda o educando/a pensar de forma ordenada, com isso, supera o conhecimento ingênuo e passa para um olhar racional da realidade, este é o objetivo da práxis pedagógica, a formação de consciência crítica. Na Pedagogia do Oprimido, o desenvolvimento de ação reflexivo-crítica é essencial.
“A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e pela, superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos.”. (FREIRE, PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, 1987, p. 19).

Pensar de forma ordenada é entender os diferentes tipos de pensamentos. Não há uma única forma correta de se pensar o que entendemos e necessitamos aprender esses diferentes tipos de pensamentos para compreendermos melhor o processo das nossas ideias e também das ideias dos outros. É ser capaz de realizar um impacto positivo na sociedade.
A educação em duas estruturas precisa ter grandeza e igualdade, pois a ação pedagógica envolve pessoas, este ato social humano é surpreendente pela diversidade de subjetividade.
Faz-se necessário uma nova visão de sociedade, um pensamento que veja o mundo como um todo, que entenda sua conexão, sua unidade, sua continuidade, sua renovação.

“A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem o fez menos”.(FREIRE, PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, 1987, p. 16).

O processo pedagógico da práxis, para além de produzir conhecimento, conduz educador/a e educando/a tornarem-se permanentes pesquisadores/as, movimentando-se numa pedagogia que investiga, transforma e educa, investindo em uma formação de caráter permanente/continuado.
É um processo que exige flexibilidade do educador/educando, pois os conteúdos fixos dão lugar a processos abertos de pesquisa e comunicação. É a construção do saber através de um ensino interativo.
É fundamental a importância da participação ativa da comunicação educacional, o conjunto educacional (coordenador, educador, educando, pai, mãe, entre outros) se constitui a partir de um método participativo, que serve de linha orientadora de como os sujeitos estão direta ou indiretamente envolvidos e são responsáveis na formação de outrem.

A PRÁXIS PEDAGÓGICA E EPISTEMOLOGIA: O COMPROMISSO ÉTICO

A práxis deve ser compromisso ético.
A ética deve visar o bem comum, no seu mais amplo sentido, conciliando interesses individuais como os interesses sociais, estabelecendo assim, o bem comum. Não temos como separar a conscientização ética da alfabetização.
Ambas são interdependentes e o sujeito, ao mesmo tempo em que se alfabetiza, está sendo conscientizado para a execução de uma teoria ou prática libertadora.
O método de alfabetização, de autorreflexão e a epistemologia provoca no sujeito mudança. Esta ação visa atender o interesse da autonomia e emancipação de cada sujeito, o que significa ser livre de um sistema que oprime.
A educação precisa alimentar a consciência crítica na busca pela emancipação.
Mediante o exercício de pensar criticamente, possibilita um processo de transformação e de novas direções, novos sentidos, novos espaços. O sujeito conscientizado pelo processo educativo assume com a transformação da realidade a própria busca pela liberdade.

[...] o processo de alfabetização política – como o processo linguístico – pode ser uma prática para a “domesticação dos homens”, ou uma prática para sua libertação. [...] Daí uma ação desumanizante, de um lado, e um esforço de humanização, de outro. p. 27.(FREIRE, CONSCIENTIZAÇÃO: TEORIA E PRÁTICA DA LIBERTAÇÃO, 1979, p. 27).

Como não há homem sem mundo, nem mundo sem o homem, também não pode haver reflexão e ação fora da relação homem-mundo.
Isso implica mundo e consciência. E a proposta do diálogo, do cotidiano e do partículas das pessoas. E o transformar das suas realidades.
Pensar metodologicamente as afeições freireanas remete-nos diretamente a uma tomada de consciência e busca incansável pela formação de conhecimento crítico.
Um conhecimento que defenda nossas opiniões com argumentos claros.
Ensinar não é transferir ou depositar conhecimento.

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, 1997, p. 16).

Ato de ensinar não se baseia pelo fato de apresentarmos algo à alguém. Não quer dizer transferência, mas possibilidade de experiências de vida, diferentes do professor soberano e dono do saber.
Educar é um caminho de mão dupla, pois todos temos algo a dar e a receber, reconhecendo que estamos em permanente processo de formação, favorecendo assim, a troca de experiências e de conhecimento.

Etapas do método: Paulo Freire

  1. Etapa de Investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.
  2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
  3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.

O método
As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e assimseleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, apresenta-se elas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para significá-las na realidade daquela turma.

A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. ( i.e., BA-BE-BI-BO-BU)

As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.

A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.

As fases de aplicação do método

Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes:

1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.

2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonéticadificuldades fonéticas - numa sequência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.

4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates, asquais deverão servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição rígida.

5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.


REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011. 
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11ª Edição. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1987..

FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação - Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.




Paulo Freire: sua visão de mundo, de homem e de sociedade/Alder Júlio Ferreira Calado. Caruaru: FAFICA 2001.