terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DE PAULO FREIRE

Felipe Santos
Graciele Santos Palvesk
Isabel M T Oliveira Santana
Priscila Fonseca Merise

O tema de reflexão neste texto será uma ligação entre teoria e prática na educação proposta por Paulo Freire.
A proposta educativa de FREIRE, de (1996) vai ao encontro de organização de um ajuste entre teoria e prática, apresentada como práxis pedagógicas (conduta ou ação que corresponde a uma atividade prática em oposição à teoria).Pensar a educação, na performance da prática na atualidade, continua sendo um dos grandes desafios enfrentados pelos educadores/as em sala de aula.
Precisamos arriscar-nos nos espaços de formação, melhorando a capacidade de transformação social, desenvolvimento intelectual, constituição social, desenvolvimento intelectual, constituição de relações e construção de conhecimento, bem como a cidadania dos diversos atores sociais.

“Esse saber didático, enquanto saber de mediação, trata de princípios, essencialmente metodológicos, do processo pedagógico escolar – ensino - entendidos à luz do estreito relacionamento entre conteúdo e forma, no contexto das condições concretas do trabalho didático, o qual possui sua expressão nuclear na sala de aula”. (OLIVEIRA, 1993: 133)

É um engano pensarmos numa sociedade globalizada/globalizante, alicerçada em princípios solipsistas (concepção de que além de nós, só existem as nossas experiências) e individuais, considerando que o coletivo provoca discussões, análises, sínteses sobre uma determinada realidade que, por sua vez alimenta o espírito transformador comunitário.
Este processo planeja, conduz a reorienta conceitos de mudanças pessoais e de grupos, de forma integrada, trazendo a possibilidade de entendimento e transformação.

“... do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo reinventá-lo ; aquele que é capaz de aplicar o aprendido – apreendido a situações existenciais concretas. Pelo contrário, aquele que é enchido por outros, de conteúdos cuja inteligência não percebe, de conteúdos que contradizem a própria forma de estar em seu mundo, sem que seja desafiado, não aprende.” (FREIRE, 1975: 27 e 28).


A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA: A PRÁXIS PEDAGÓGICA

Nossa abordagem sobre a relação teoria e prática percorre o compromisso existente dos sujeitos na construção de saberes e com a transformação da sociedade. Dentro do processo pedagógico, teoria e prática precisam dialogar permanentemente, fugindo da ideia tradicional de que o saber está somente na teoria, construído distante ou separado da ação/prática.

Na concepção de Freire, teoria e prática são inseparáveis tornando-se, por meio de sua relação, práxis autêntica, que possibilita aos sujeitos reflexão sobre a ação, proporcionando educação para a liberdade. “A práxis, porém, é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimido” (FREIRE, 1987, p. 38).

A palavra verdadeira é práxis, energia e realização da vocação para um ser mais humano (vocação ontológica), seu objetivo é a transformação do mundo.
Este é um processo que envolve uma reação entre que o que se pensa, o que diz e o que se faz, sendo este um ato coerente de aproximação do que pensamos, dizemos e fazemos.
A formação crítica deve viver plenamente a práxis, a partir de uma reflexão que ajuda o educando/a pensar de forma ordenada, com isso, supera o conhecimento ingênuo e passa para um olhar racional da realidade, este é o objetivo da práxis pedagógica, a formação de consciência crítica. Na Pedagogia do Oprimido, o desenvolvimento de ação reflexivo-crítica é essencial.
“A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e pela, superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos.”. (FREIRE, PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, 1987, p. 19).

Pensar de forma ordenada é entender os diferentes tipos de pensamentos. Não há uma única forma correta de se pensar o que entendemos e necessitamos aprender esses diferentes tipos de pensamentos para compreendermos melhor o processo das nossas ideias e também das ideias dos outros. É ser capaz de realizar um impacto positivo na sociedade.
A educação em duas estruturas precisa ter grandeza e igualdade, pois a ação pedagógica envolve pessoas, este ato social humano é surpreendente pela diversidade de subjetividade.
Faz-se necessário uma nova visão de sociedade, um pensamento que veja o mundo como um todo, que entenda sua conexão, sua unidade, sua continuidade, sua renovação.

“A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem o fez menos”.(FREIRE, PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, 1987, p. 16).

O processo pedagógico da práxis, para além de produzir conhecimento, conduz educador/a e educando/a tornarem-se permanentes pesquisadores/as, movimentando-se numa pedagogia que investiga, transforma e educa, investindo em uma formação de caráter permanente/continuado.
É um processo que exige flexibilidade do educador/educando, pois os conteúdos fixos dão lugar a processos abertos de pesquisa e comunicação. É a construção do saber através de um ensino interativo.
É fundamental a importância da participação ativa da comunicação educacional, o conjunto educacional (coordenador, educador, educando, pai, mãe, entre outros) se constitui a partir de um método participativo, que serve de linha orientadora de como os sujeitos estão direta ou indiretamente envolvidos e são responsáveis na formação de outrem.

A PRÁXIS PEDAGÓGICA E EPISTEMOLOGIA: O COMPROMISSO ÉTICO

A práxis deve ser compromisso ético.
A ética deve visar o bem comum, no seu mais amplo sentido, conciliando interesses individuais como os interesses sociais, estabelecendo assim, o bem comum. Não temos como separar a conscientização ética da alfabetização.
Ambas são interdependentes e o sujeito, ao mesmo tempo em que se alfabetiza, está sendo conscientizado para a execução de uma teoria ou prática libertadora.
O método de alfabetização, de autorreflexão e a epistemologia provoca no sujeito mudança. Esta ação visa atender o interesse da autonomia e emancipação de cada sujeito, o que significa ser livre de um sistema que oprime.
A educação precisa alimentar a consciência crítica na busca pela emancipação.
Mediante o exercício de pensar criticamente, possibilita um processo de transformação e de novas direções, novos sentidos, novos espaços. O sujeito conscientizado pelo processo educativo assume com a transformação da realidade a própria busca pela liberdade.

[...] o processo de alfabetização política – como o processo linguístico – pode ser uma prática para a “domesticação dos homens”, ou uma prática para sua libertação. [...] Daí uma ação desumanizante, de um lado, e um esforço de humanização, de outro. p. 27.(FREIRE, CONSCIENTIZAÇÃO: TEORIA E PRÁTICA DA LIBERTAÇÃO, 1979, p. 27).

Como não há homem sem mundo, nem mundo sem o homem, também não pode haver reflexão e ação fora da relação homem-mundo.
Isso implica mundo e consciência. E a proposta do diálogo, do cotidiano e do partículas das pessoas. E o transformar das suas realidades.
Pensar metodologicamente as afeições freireanas remete-nos diretamente a uma tomada de consciência e busca incansável pela formação de conhecimento crítico.
Um conhecimento que defenda nossas opiniões com argumentos claros.
Ensinar não é transferir ou depositar conhecimento.

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, 1997, p. 16).

Ato de ensinar não se baseia pelo fato de apresentarmos algo à alguém. Não quer dizer transferência, mas possibilidade de experiências de vida, diferentes do professor soberano e dono do saber.
Educar é um caminho de mão dupla, pois todos temos algo a dar e a receber, reconhecendo que estamos em permanente processo de formação, favorecendo assim, a troca de experiências e de conhecimento.

Etapas do método: Paulo Freire

  1. Etapa de Investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.
  2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
  3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.

O método
As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e assimseleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, apresenta-se elas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para significá-las na realidade daquela turma.

A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. ( i.e., BA-BE-BI-BO-BU)

As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.

A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.

As fases de aplicação do método

Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes:

1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.

2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonéticadificuldades fonéticas - numa sequência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.

4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates, asquais deverão servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição rígida.

5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.


REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011. 
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11ª Edição. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1987..

FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação - Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.




Paulo Freire: sua visão de mundo, de homem e de sociedade/Alder Júlio Ferreira Calado. Caruaru: FAFICA 2001.

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